sábado, 6 de março de 2010

As apaixonadas por vampiros

       Vivemos numa época em que o antigo monstro ganhou status de mocinho. Os vampiros agora são os novos heróis e galãs na nossa cultura de ficção. Essa transformação começou com "Entrevista com o vampiro" em 1994, com Brad Pitt e Tom Cruise arrancado suspiros do público feminino. Agora parece que chegamos ao auge da época dos vampiros-mocinhos, com a versão cinematográfica da série "Crepúsculo".
       Muitos se perguntam o que poderia causar tanto fascínio pelos sangue-sugas charmosos?
       Penso que, a partir do período pós- Guerra Fria, o contraste nítido que separava o mocinho do bandido foi se perdendo. Com a vitória do Capitalismo, não apenas se eliminou a ameaça do inimigo socialista, como também se perdeu a identidade do mocinho... A vida deixou de ser preto no branco e os tons cinzentos ganharam a vez. Os ideais românticos deram lugar a um ponto de vista mais realista, em que nenhuma paixão leva a um final feliz perfeito e poucas vezes duradouro, já nos dizia Vinicius de Moraes, "Mas que seja infinito enquanto dure". 
       É nesse cenário que se vai facilmente da paixão ao ódio, em que o príncipe encantado pode se revelar um monstro sanguinário... Mas ainda assim queremos nos apaixonar pois assim sabemos que ainda estamos vivos e que o sangue ainda corre em nossas veias. Quero declarar que o VAMPIRO passou a ser metáfora da PAIXÃO avassaldora. A vítima ou se deixa seduzir pelo charme do vampiro, para ser mordida sem a menor reação, ou foge mas não escapa do inevitável e o predador lhe suga a vida de um jeito ou de outro.
       Num mundo em que tantos candidatos a viverem "felizes para sempre" terminam em "divorciados novamente", a paixão ainda é convidada a entrar em nossas vidas pois não seríamos mordidas se não tivéssemos o precioso líquido capaz de atrair e alimentar o nosso predador... Ser presa de um vampiro comprova que estamos vivas e que somos desejadas. E por breves instantes nos entregamos à mordida, sem saber se morreremos em seguida, com mais um final infeliz, ou se teremos a sorte de beber o sangue do imortal para que, transformadas em vampiras, passemos a eternidade condenadas ao pecado, em companhia do sedutor.
     Talvez assim a histeria adolescente pelos vampiros cintilantes possa finalmente fazer algum sentido aos que olham para essa nova tendência como outsiders.