terça-feira, 3 de maio de 2011

Pipa e balão


Suave brisa morna...
Teu encanto nessa forma
Fez voar meu coração pipa
Céu acima em minha Floripa.

Subindo eu subia por balão
De tua mágica cor-de-verão.
Travessuras de infância inocentes,
Romance idílico tão envolvente...

Alcei alto vôo até o pico
Culminante em beijo pudico.

Então a linha da pipa se rompeu,
De tuas mãos solto, balão se perdeu.
Só não escapou memória doce
Daquilo que pensei que fosse.

Em queda livre, desci do cume.
Hoje é a consciência que pune:
Da ilusão adoeci e restaste imune.

Desancoraste e partiste –
Não me envia notícia triste.
Aguardo novo navio,
Faça sol, chuva ou frio,
Estarei no porto a postos.

Noutro romance aposto,
Perder, vencer:  é aventura.
Não me afogarei na amargura.
Reerguer-me é minha glória,
Até que um dia viva a vitória.

17 e 18 de março, 2011 - Florianópolis

quinta-feira, 21 de abril de 2011

ELE NÃO ESTÁ TÃO A FIM DE VOCÊ - Uma caça à falta de sentido do filme (cuidado!!! spoilers)


Janine se separou de Ben porque não suportou que fumasse cigarros – para ela, o trauma de perder o pai para o vício causador da morte por câncer pulmonar é pior que o trauma da traição. A mentira acabou com o casamento porque ele fumava escondido e não por causa do caso tórrido entre Ben e Anna... Esses americanos... não suportam que lhes mintam. Penso que não suportam descobrir que foram enganados, pois isso lhes fere o ego. Aliás, a gravidade da mentira em si pouco importa, tampouco o problema me parecem se indignar com falta de honra e honestidade, mas sim perceber que podem ser feitos de bobo e que isso lhes faz vulneráveis e incapazes de controlar o que se passa à sua volta.

Depois de romper com Ben por crise de consciência, Anna aceitou o amor de Connor para fugir da solidão. Antes que o relacionamento ficasse mais sério, Anna teve a decência de se separar de Connor para que ele pudesse casar e constituir família com quem realmente estivesse afim dele. Note-se que Anna é uma mulher linda e sexy que poderia dispor de qualquer homem rastejando a seus pés, porém se interessa por um homem comprometido. Além disso, nesse mundo romântico, ela não seria capaz de usar seus encantos para se aproveitar dos bens e confortos materiais que Connor lhe oferece. Ou seja, mulheres perfeitamente belas podem ser perfeitamente carentes.

Anna e Ben ficam solteiros e sozinhos no final, apesar de poderem estar juntos, apesar de serem o casal mais sexy do filme – consolo pros que se sentem pouco atraentes, pois finalmente os lindos se dão mal. A aparência não os ajudou, fato pouco comum na vida real, para dizer o mínimo. Longe da telinha, são os belos e atraentes que têm o mundo a seus pés e que se dão bem na vida.

Beth e Neil formam um casal “pé no chão”. Moram juntos há muitos anos, mas não se casaram no papel e, de acordo com a lei americana, só casando de papel passado serão marido e mulher de fato. Socialmente, não podem se intitular marido e mulher, diferentemente do que ocorre no Brasil. Essa é a angústia de Beth, assumir publicamente um relacionamento de casados, apesar de já viver uma vida de casada. Beth se compara à irmã mais nova que está se casando e pressiona o namorado a se casar com ela. A sua preocupação com as aparências ofende Neil, que tem uma visão alternativa da sociedade e considera o casamento uma formalidade totalmente dispensável. No Brasil esse conflito me parece menos freqüente, já que relacionamentos estáveis de casais que moram juntos são considerados casamentos, mesmo sem as formalidades legais. Na sociedade do EUA, o conflito é justificado e o pedido de casamento só será completo com um anel de diamantes. Depois de reconhecer o valor de seu relacionamento mesmo sem cerimônia nupcial, Beth é surpreendida com o pedido de casamento – diamante incluso. Moral da história: sem diamante e sem festa o compromisso não é pra valer... Afinal, como sobreviveriam as joalherias e os buffets de casamento? Consumamos!

Gigi, a personagem principal, descobre que se um homem não telefona, é porque não está afim. Todos os “sinais” que lhe indicavam que Connor tinha gostado dela eram um equívoco. Alex lhe ensina sobre os modos que homens usam pra dispensar uma mulher que não desejam rever. Com o tempo, Gigi detecta “sinais” que lhe indicam que Alex está afim dela, mas Alex nega tudo e os sinais se revelam mais um engano. Bem quando Gigi aceita a vida como ela é, resolvendo sair com quem realmente esteja interessado nela, Alex se descobre apaixonado por ela. Os dois menos atraentes acabam formando o casal mais radiante de tão feliz – ou seja, não só os mais belos se deram mal (Anna e Ben) como o casal de menor sex appeal foi superfeliz! De certa forma, os “sinais” levaram Gigi ao amor da sua vida. Helloooo – então os sinais funcionam? Muita incoerência pra um filme só.

Para coroar as extrapolações da imaginação romântica, temos os “causos” contados por Mary, oferecidos a Gigi como consolo. São “causos” fantasiosos das supostas exceções raras em que os homens estavam interessados, apesar de todas as evidências contrárias. Cortou meu coração ver Drew Barrymore se prestar a fazer um papelão desses, obscurecendo sua carreira. Depois de ser rejeitada no mundo virtual, Mary conhece e flerta com o também rejeitado Connor. Esperança para rejeitados...

Lições do filme: beleza não põe a mesa, mentira tem perna curta, a esperança é a última que morre – seja você um rejeitado crônico ou uma mulher à espera de um pedido de casamento.

A comédia romântica mais viagem que já vi na vida, vendendo o amor para desesperançados de forma totalmente incoerente e enganosa. Finais felizes escritos de modo infeliz.

sábado, 6 de março de 2010

As apaixonadas por vampiros

       Vivemos numa época em que o antigo monstro ganhou status de mocinho. Os vampiros agora são os novos heróis e galãs na nossa cultura de ficção. Essa transformação começou com "Entrevista com o vampiro" em 1994, com Brad Pitt e Tom Cruise arrancado suspiros do público feminino. Agora parece que chegamos ao auge da época dos vampiros-mocinhos, com a versão cinematográfica da série "Crepúsculo".
       Muitos se perguntam o que poderia causar tanto fascínio pelos sangue-sugas charmosos?
       Penso que, a partir do período pós- Guerra Fria, o contraste nítido que separava o mocinho do bandido foi se perdendo. Com a vitória do Capitalismo, não apenas se eliminou a ameaça do inimigo socialista, como também se perdeu a identidade do mocinho... A vida deixou de ser preto no branco e os tons cinzentos ganharam a vez. Os ideais românticos deram lugar a um ponto de vista mais realista, em que nenhuma paixão leva a um final feliz perfeito e poucas vezes duradouro, já nos dizia Vinicius de Moraes, "Mas que seja infinito enquanto dure". 
       É nesse cenário que se vai facilmente da paixão ao ódio, em que o príncipe encantado pode se revelar um monstro sanguinário... Mas ainda assim queremos nos apaixonar pois assim sabemos que ainda estamos vivos e que o sangue ainda corre em nossas veias. Quero declarar que o VAMPIRO passou a ser metáfora da PAIXÃO avassaldora. A vítima ou se deixa seduzir pelo charme do vampiro, para ser mordida sem a menor reação, ou foge mas não escapa do inevitável e o predador lhe suga a vida de um jeito ou de outro.
       Num mundo em que tantos candidatos a viverem "felizes para sempre" terminam em "divorciados novamente", a paixão ainda é convidada a entrar em nossas vidas pois não seríamos mordidas se não tivéssemos o precioso líquido capaz de atrair e alimentar o nosso predador... Ser presa de um vampiro comprova que estamos vivas e que somos desejadas. E por breves instantes nos entregamos à mordida, sem saber se morreremos em seguida, com mais um final infeliz, ou se teremos a sorte de beber o sangue do imortal para que, transformadas em vampiras, passemos a eternidade condenadas ao pecado, em companhia do sedutor.
     Talvez assim a histeria adolescente pelos vampiros cintilantes possa finalmente fazer algum sentido aos que olham para essa nova tendência como outsiders.