Janine se separou de Ben porque não suportou que fumasse
cigarros – para ela, o trauma de perder o pai para o vício causador da morte
por câncer pulmonar é pior que o trauma da traição. A mentira acabou com o
casamento porque ele fumava escondido e não por causa do caso tórrido entre Ben
e Anna... Esses americanos... não suportam que lhes mintam. Penso que não
suportam descobrir que foram enganados, pois isso lhes fere o ego. Aliás, a
gravidade da mentira em si pouco importa, tampouco o problema me parecem se
indignar com falta de honra e honestidade, mas sim perceber que podem ser
feitos de bobo e que isso lhes faz vulneráveis e incapazes de controlar o que
se passa à sua volta.
Depois de romper com Ben por crise de consciência, Anna
aceitou o amor de Connor para fugir da solidão. Antes que o relacionamento
ficasse mais sério, Anna teve a decência de se separar de Connor para que ele
pudesse casar e constituir família com quem realmente estivesse afim dele.
Note-se que Anna é uma mulher linda e sexy que poderia dispor de qualquer homem
rastejando a seus pés, porém se interessa por um homem comprometido. Além
disso, nesse mundo romântico, ela não seria capaz de usar seus encantos para se
aproveitar dos bens e confortos materiais que Connor lhe oferece. Ou seja,
mulheres perfeitamente belas podem ser perfeitamente carentes.
Anna e Ben ficam solteiros e sozinhos no final, apesar de
poderem estar juntos, apesar de serem o casal mais sexy do filme – consolo pros
que se sentem pouco atraentes, pois finalmente os lindos se dão mal. A
aparência não os ajudou, fato pouco comum na vida real, para dizer o mínimo.
Longe da telinha, são os belos e atraentes que têm o mundo a seus pés e que se
dão bem na vida.
Beth e Neil formam um casal “pé no chão”. Moram juntos há
muitos anos, mas não se casaram no papel e, de acordo com a lei americana, só
casando de papel passado serão marido e mulher de fato. Socialmente, não podem
se intitular marido e mulher, diferentemente do que ocorre no Brasil. Essa é a
angústia de Beth, assumir publicamente um relacionamento de casados, apesar de
já viver uma vida de casada. Beth se compara à irmã mais nova que está se
casando e pressiona o namorado a se casar com ela. A sua preocupação com as
aparências ofende Neil, que tem uma visão alternativa da sociedade e considera
o casamento uma formalidade totalmente dispensável. No Brasil esse conflito me
parece menos freqüente, já que relacionamentos estáveis de casais que moram
juntos são considerados casamentos, mesmo sem as formalidades legais. Na
sociedade do EUA, o conflito é justificado e o pedido de casamento só será
completo com um anel de diamantes. Depois de reconhecer o valor de seu
relacionamento mesmo sem cerimônia nupcial, Beth é surpreendida com o pedido de
casamento – diamante incluso. Moral da história: sem diamante e sem festa o
compromisso não é pra valer... Afinal, como sobreviveriam as joalherias e os
buffets de casamento? Consumamos!
Gigi, a personagem principal, descobre que se um homem não
telefona, é porque não está afim. Todos os “sinais” que lhe indicavam que
Connor tinha gostado dela eram um equívoco. Alex lhe ensina sobre os modos que
homens usam pra dispensar uma mulher que não desejam rever. Com o tempo, Gigi
detecta “sinais” que lhe indicam que Alex está afim dela, mas Alex nega tudo e
os sinais se revelam mais um engano. Bem quando Gigi aceita a vida como ela é,
resolvendo sair com quem realmente esteja interessado nela, Alex se descobre
apaixonado por ela. Os dois menos atraentes acabam formando o casal mais
radiante de tão feliz – ou seja, não só os mais belos se deram mal (Anna e Ben)
como o casal de menor sex appeal foi
superfeliz! De certa forma, os “sinais” levaram Gigi ao amor da sua vida.
Helloooo – então os sinais funcionam? Muita incoerência pra um filme só.
Para coroar as extrapolações da imaginação romântica, temos
os “causos” contados por Mary, oferecidos a Gigi como consolo. São “causos”
fantasiosos das supostas exceções raras em que os homens estavam interessados,
apesar de todas as evidências contrárias. Cortou meu coração ver Drew Barrymore
se prestar a fazer um papelão desses, obscurecendo sua carreira. Depois de ser
rejeitada no mundo virtual, Mary conhece e flerta com o também rejeitado
Connor. Esperança para rejeitados...
Lições do filme: beleza não põe a mesa, mentira tem perna
curta, a esperança é a última que morre – seja você um rejeitado crônico ou uma
mulher à espera de um pedido de casamento.
A comédia romântica mais viagem que já vi na vida, vendendo
o amor para desesperançados de forma totalmente incoerente e enganosa. Finais
felizes escritos de modo infeliz.
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